Manifesto por um Brasil literário
O Instituto C&A, se somando às
proposições da Associação Casa Azul – organizadora da Festa Literária
Internacional de Paraty -, à Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, ao
Instituto Ecofuturo e ao Centro de Cultura Luiz Freire, manifesta sua intenção
de concorrer para fazer do País uma sociedade leitora. Reconhecendo o êxito já
conferido, nacional e internacionalmente à FLIP, o projeto busca estender às
comunidades, atividades mobilizadoras que promovam o exercício da leitura
literária.
Reconhecemos
como princípio o direito de todos de participarem da produção também literária.
No mundo atual, considera-se a alfabetização como um bem e um direito. Isto se
deve ao fato de que com a industrialização as profissões exigem que o
trabalhador saiba ler. No passado, os ofícios e ocupações eram transmitidos de
pai para filho, sem interferência da escola.
Alfabetizar-se,
saber ler e escrever tornaram-se hoje condições imprescindíveis à
profissionalização e ao emprego. A escola é um espaço necessário para
instrumentalizar o sujeito e facilitar seu ingresso no trabalho. Mas pelo
avanço das ciências humanas compreende-se como inerente aos homens e mulheres a
necessidade de manifestar e dar corpo às suas capacidades inventivas.
Por
outro lado, existe um uso não tão pragmático de escrita e leitura. Numa época
em que a oralidade perdeu, em parte, sua força, já não nos postamos diante de
narrativas que falavam através da ficção de conteúdos sapienciais, éticos,
imaginativos.
É
no mundo possível da ficção que o homem se encontra realmente livre para
pensar, configurar alternativas, deixar agir a fantasia. Na literatura que,
liberto do agir prático e da necessidade, o sujeito viaja por outro mundo
possível. Sem preconceitos em sua construção, daí sua possibilidade intrínseca
de inclusão, a literatura nos acolhe sem ignorar nossa incompletude.
É
o que a literatura oferece e abre a todo aquele que deseja entregar-se à
fantasia. Democratiza-se assim o poder de criar, imaginar, recriar, romper o
limite do provável. Sua fundação reflexiva possibilita ao leitor dobrar-se
sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o idealizado.
A
leitura literária é um direito de todos e que ainda não está escrito. O sujeito
anseia por conhecimentos e possui a necessidade de estender suas intuições criadoras
aos espaços em que convive. Compreendendo a literatura como capaz de abrir um
diálogo subjetivo entre o leitor e a obra, entre o vivido e o sonhado, entre o
conhecido e o ainda por conhecer; considerando que este diálogo das diferenças
– inerente à literatura – nos confirma como redes de relações; reconhecendo que
a maleabilidade do pensamento concorre para a construção de novos desafios para
a sociedade; afirmando que a literatura, pela sua configuração, acolhe a todos
e concorre para o exercício de um pensamento crítico, ágil e inventivo;
compreendendo que a metáfora literária abriga as experiências do leitor e não
ignora suas singularidades, que as instituições em pauta confirmam como
essencial para o País a concretização de tal projeto.
Outorgando
a si mesmo o privilégio de idealizar outro cotidiano em liberdade, e movido
pela intimidade maior de sua fantasia, um conhecimento mais amplo e diverso do
mundo ganha corpo, e se instala no desejo dos homens e mulheres promovendo os
indivíduos a sujeitos e responsáveis pela sua própria humanidade. De
consumidores passa-se a investidores na artesania do mundo. Por ser assim,
persegue-se uma sociedade em que a qualidade da existência humana é buscada
como um bem inalienável.
Liberdade,
espontaneidade, afetividade e fantasia são elementos que fundam a infância.
Tais substâncias são também pertinentes à construção literária. Daí, a
literatura ser próxima da criança. Possibilitar aos mais jovens acesso ao texto
literário é garantir a presença de tais elementos – que inauguram a vida – como
essenciais para o seu crescimento. Nesse sentido é indispensável a presença da
literatura em todos os espaços por onde circula a infância. Todas as atividades
que têm a literatura como objeto central serão promovidas para fazer do País
uma sociedade leitora. O apoio de todos que assim compreendem a função
literária, a proposição é indispensável. Se é um projeto literário é também uma
ação política por sonhar um País mais digno.
Bartolomeu
Campos de Queirós
Junho de 2009
Leia mais: http://www.brasilliterario.org.br/noticias/mostra.php?id=92Junho de 2009
BRASIL LITERÁRIO - http://www.brasilliterario.org.br
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